O Design Emocional e o seu impacto nos Games
Antes de iniciar este artigo, gostaria de expressar o que sinto ao contemplar a imagem da Master Sword cravada na pedra da floresta de Hyrule.
Cada vez que me deparo com essa imagem ou ouço a magnífica trilha sonora de The Legend of Zelda, sou instantaneamente transportado aos tempos de minha infância. Consigo recordar do natal em que meus pais me presentearam com uma enorme caixa dourada contendo o jogo The Legend of Zelda: Ocarina of Time. Lembro da antiga televisão na sala, na qual eu jogava, e dos amigos da infância sentados ao meu redor, fascinados pelo game, revezando entre eles para por as mãos no controle e jogar o game. São inúmeras memórias afetivas e uma intensa sensação de nostalgia.
Também me recordo da primeira impressão que tive ao experimentar a jogabilidade, o visual, a ambientação, a trilha sonora, o carisma dos personagens e as infinitas possibilidades de exploração do mundo de Hyrule com Link, o protagonista. Naquela época, tudo isso era fascinante e fazia meu coração transbordar de alegria.
É perceptível que, mesmo hoje em dia, uma enxurrada de emoções ainda desperta em mim quando entro em contato com todos esses elementos que compõem o jogo The Legend of Zelda. Isso ocorre porque eles recordam as experiências marcantes e lembranças afetivas que vivenciei no passado com o jogo. Portanto, toda vez que me deparo com algo novo relacionado a franquia Zelda, a famosa empolgação criada já está no ápice.
O design emocional nos jogos tem o poder de nos transportar para universos fictícios, despertando emoções intensas e imersivas. Quando nos envolvemos com um jogo, não é apenas a jogabilidade ou os gráficos que nos cativam, mas também a maneira como ele desperta sentimentos e nos conecta emocionalmente à história e aos personagens.
Neste artigo, exploraremos a importância do design emocional nos games e como ele influencia nossa experiência como jogadores.
O que é Design Emocional?
O design emocional foi um conceito definido por Donald Norman, um dos grandes estudiosos do assunto, em seu livro “Design Emocional: Por que adoramos (ou detestamos) os objetos do dia a dia”. Trata-se de usar o conhecimento sobre fatores básicos do ser humano, como desejos, instintos e emoções, para fazer que com as pessoas gostem de um determinado produto devido ao poder do subconsciente.
Níveis de design emocional
Em seu livro Don Norman cita que existem 3 níveis de design emocional que acabam despertando emoções aos usuários são eles: nível visceral, nível comportamental e nível reflexivo.
Nível Visceral
O nível visceral é um nível subconsciente relacionado ao conceito de “instinto”. Trata-se do impacto emocional direto e imediato, manifestado através de formas, cores, sensações físicas e texturas dos materiais, bem como pelos sons que ouvimos.
O objeto deve ser, de certa forma, “sensual” aos olhos da pessoa, transmitindo uma sensação agradável e apresentando boa aparência.
É esse nível que nosso cérebro faz com que sentimos atração pela beleza e pela ordem, ao passo que manifesta aversão por coisas feias e desorganizadas.
Um produto bonito e atraente pode fazer com que os usuários superem problemas de usabilidade, acreditando que ele funciona melhor.
Os games da série The Legend of Zelda sempre utilizam uma bela ambientação visual do mundo de Hyrule, fazendo com que sempre em um novo game da série, nos dê uma vontade imensa de voltar a explorar seus segredos e calabouços novamente. Além de contar com uma trilha sonora muito cativante, gerando assim uma resposta emocional imediata de alegria e nostalgia aos jogadores quando a escutam.
Nível Comportamental
O segundo nível é o comportamental relacionado ao prazer de realizar uma atividade do começo ao fim de forma fluida e sem interrupções , tendo relação não somente com a facilidade de uso, mas também com o prazer de uso. O design comportamental representa os processos de uso e compreensibilidade, muito ligados à sensação de controle do usuário e sendo, por conta disso, capaz facilmente de causar sentimentos de satisfação ou frustação.
O game Portal 2 possui mecânicas que são bem fáceis de aprender e entender, porém a medida que avançamos nas fases elas se tornam cada vez mais desafiadoras e requerem um grau elevado de habilidade para resolver os puzzles. Tudo isso acaba criando uma sensação de satisfação e realização conforme o jogador vai avançando e completando os desafios.
Nível Reflexivo
O terceiro e mais complexo é o nível reflexivo, que está relacionado com o superego, é explicado como sendo parte do cérebro que não tem controle sobre o que você faz, ele fica responsável por avaliar e refletir tudo aquilo que está acontecendo à nossa volta .
Nesse nível entram as memórias afetivas, familiaridade e as associações, da visão que desejamos ter de nós mesmos o que tem muita relação com o status social.
É possível também haver casos em que o nível reflexivo pode ser confundido com o visceral, mas enquanto um trata de percepções mais profundas sobre um objeto e seus significados, o outro engloba unicamente a atratividade espontânea.
The Last of Us, é um grande exemplo de nível reflexivo, no game temos uma história emocionante e uma narrativa envolvente, fazendo com que os jogadores consigam se conectar em um nível profundo com seus acontecimentos. O jogo nos traz sentimentos de empatia, tristeza, alívio, preocupação e apego aos personagens, nos deixando muito reflexivos com as situações que vivenciamos ao jogar. É uma experiência que todos os jogadores deveriam experimentar.
Esses foram somente alguns exemplos mas existem muitos outros games que também se encaixam nesses níveis de design emocional.
Concluindo, o design emocional é sim um aspecto crucial para criação de produtos significativos para o usuário. É de suma importância que os designers e as empresas considerem o aspecto emocional no desenvolvimento de seus produtos, pois isso pode ser sua principal vantagem competitiva, fazendo com que seus usuários não apenas o utilizem, mas passem a amar verdadeiramente e criar verdadeiros laços com seu produto.
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Referências
- Os três níveis de design de Donald Norman
- O que é Design Emocional?
- NORMAN, Donald A. O Design Emocional: por que adoramos (ou detestamos) os objetos do dia-a-dia. Rio de Janeiro: Ed. ROCCO,. 2008.
